segunda-feira, 4 de abril de 2011

A Nossa Indiferença



        Nessa manhã, mais uma vez, tive que enfrentar o trânsito de Belo Horizonte. No ônibus em que eu estava, já não cabia mais ninguém, mas, mesmo assim, ele parava em todos os pontos. Pessoas subiam e desciam. Envoltas que estavam, sequer conseguiam ver ou discernir outras pessoas. É só correria. A uma, porque saem de casa já atrasadas. A duas, porque vivem correndo. Afinal, inutilmente, muitas são as preocupações.
        Como dito, o ônibus estava muito cheio. Procurei, então, postar-me junto à porta de entrada, a fim de não ser mais um espremido no corredor. A porta é um lugar privilegiado. Vê-se o trânsito à frente e as pessoas que irão entrar no ônibus.
        Privilegiado que estava, passei a observar as pessoas. Tanto as que entravam e saiam do ônibus, quanto aquelas que cruzavam pela rua ou aguardavam o próximo ônibus. Também observava as que do ônibus desciam pela porta da frente, passando por mim. Essas pessoas, na sua maioria, idosas, descem lentamente do ônibus, o que, de certa forma, deixa o motorista, já estressado, mais estressado ainda.
        Mas nesta manhã, além dos idosos, desceu, num determinado ponto de ônibus, também, uma criança, rapidamente, cheia de vida e vigor que a vida, nessa idade, lhe proporciona, e, logo em seguida, sua mãe. Notei, pelos traços da criança, que ela era deficiente. Notei, também, que sua mãe, que vinha logo atrás, também tinha traços de alguém que não é considerada normal por esta sociedade.
        A criança, com uma camisa de uniforme de escola, calça jeans, tênis azul e uma meia cor de rosa. A calça, na altura da canela, uns dez centímetros distante do tênis, a chamada “calça pega frango”, nem sei por que. O andar meio desconcertado, parecendo que, por qualquer sopro, ia cair. Além disso, levava, às costas, uma mochila.
        Em seguida, desceu a mãe. Uma senhora morena, camiseta listrada de preto e branco na horizontal, dessas que deixam os ombros totalmente de fora, usando um enorme sutiã branco, com a parte de trás para fora da camiseta. Era uma senhora um pouco gorda, andar descompassado, parecendo não se interessar muito por modismos ou postura.
        O ponto de ônibus onde desceram ficava quase defronte da escola onde a menina, ao que tudo indica, estudava. Andaram um pouco. Com o trânsito parado, deu para acompanhá-las visualmente.
        Na porta da escola, a menina, que até então, estava à frente de sua mãe, parou para aguardá-la e dela se despedir. Beijo no rosto, olhar preocupado com a filha, a mãe acompanha a menina caminhar pelo interior da escola, observando-a pelo portão que estava aberto.
        Não pude ver o que aconteceu depois, mas posso imaginar que aquela mãe, de olhar sofrido, retornaria para sua casa, onde teria outras tantas obrigações, ou, então, para o seu trabalho, onde não seria diferente.
        O ônibus continuou o seu itinerário. Trânsito lento, ruas lotadas de veículos, pedestres transitando de um lado para o outro. Correria geral. Preocupações tantas.
        Fiquei imaginando. Porque tantas coisas acontecem à nossa volta e sequer damos conta de entender as pessoas ou mesmo tentar fazer isso. Quantas pessoas sofrem ao nosso redor, vivem vidas difíceis, complicadas por situações ainda maiores, dificuldades financeiras, pessoais etc.
        Mas nada parece nos atingir. Nós, que pensamos estar bem, continuamos nossa caminhada, vemos as pessoas ao nosso redor e não sabemos de suas dificuldades. Fazemos ainda pior, porque passamos a julgá-las.
        Jesus Cristo, no seu infinito amor, amou todos os pequeninos. Aqueles que eram motivo de desprezo para outros, aqueles que não tinham riquezas e nem formosura. Ele não mediu esforços para fazer o bem, mesmo sabendo que aquelas pessoas que Ele amava, curava e salvava, estariam perante Pilatos, quando do seu julgamento, e no Gólgota, quando da sua crucificação.
        Ele não pensava em condições financeiras, em relacionamentos feridos ou qualquer outra situação que fosse. Apenas amava e queria demonstrar o seu amor por todos.
        Jesus suportou uma dor que nenhum homem poderá jamais suportar. Ele passou por um sofrimento intenso e, mesmo assim, quando estava para entregar o Seu espírito, pediu ao Pai que não imputasse àquelas pessoas mais aquele pecado, pois elas não sabiam o que faziam naquela hora.
        Nós, hoje, fazemos, muitas vezes, o mesmo que fizeram aquelas pessoas. Repetimos o ato de crucificação de Cristo, quando agimos como se nada ao nosso redor fosse importante e as pessoas que nos cercam de nada valessem.
        Jesus morreu por mim, mas morreu, também, por todos aqueles que crêem Nele. Ele não fez acepção de pessoas. Porque nós fazemos? Ele não olhou condição financeira. Porque, muitas vezes, agimos assim? Ele não olhou sexo, cor, raça, nada. Ele se entregou por amor.
        E não foi por qualquer amor, mas por um amor de verdade. O amor que tudo sofre. O amor que cuida. O amor que se preocupa com o próximo. O amor ágape. O verdadeiro amor.
        Voltando à criança e sua mãe. Não as conheço, não sei os seus nomes, onde moram e nem que condições de vida têm. Mas, naquele momento, ao vê-las e acompanhá-las visualmente, pude perceber o quanto sou privilegiado. O quanto Deus me ama. Não que Ele não as ame. Mas Deus me ama. Não sabendo o que fazer e nem como ajudar, fiz uma oração, pedindo a Deus que abençoasse aquela mãe e aquela criança e desse a elas, nesse dia, um pouco da presença Dele.
        Ocorre que, muitas vezes, conhecemos quem está à nossa volta, sabemos dos seus problemas, mas fingimos não saber e fechamos os nossos olhos, recolhendo-nos ao nosso mundinho.
        Uma mão estendida, um abraço, uma palavra, uma ajuda. Por menor que seja o ato, ele gera situações maravilhosas. Precisamos rever nossas atitudes.
        E a vida continua. Fui para o trabalho e, repetindo a semana anterior, passei a ...

Em 28.03.2011, 09:26 horas

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